terça-feira, 30 de setembro de 2014

Estranhar

Sou um parasita deste corpo que digo meu. É fragmentação do que me é físico e sinto do não querer ser e do cansaço de tentar não ser. Contam-se três compassos completamente diferentes naquele relógio, na mesma melodia, assíncronos e sem jeito; morto, velho e pútrido. E dos três nem um me coube ser porque de ouvir o que tinha esquecido, não fui e não serei; só o espaço entre ondas, repetidas, noctívagas, descontextualizadas.

E ainda se tem a falta de carácter e discernimento para pedir a inexistência quando lhe é concebida no deambular de um pensamento. Cessai. Pedir o que é seu desde o princípio, esquecer o conceito de posse, esquecer que existe e não.

Parasita, um vírus, precisa de um algo no que sobreviver, e, não é que este sobrevivia do que restava de si? Canibalismo ou fome de não ser? De desistir, cessar existência. Dói. Ironicamente dói. Infelizmente dói. Infelicidade não da dor em si mas sim de saber que está lá. Folgar em saber que não falta muito, morrer de saber que acabei de pensar.