domingo, 20 de outubro de 2013

Passar a Ferro

Depois de tanto pensar
E matutar,
Descobri que vestia
A vida às avessas.

E quando me deu para vesti-la
Como deve de ser,
Descobri que o outro lado havia sido
Corrompido por manchas sem fim de sangue e suor.

Vi então o quão horrível essa era,
Só queria queimá-la de mim,
Exorcizá-la para um complexo paralelo.
Para um Universo o mais próximo de distante.

Não gostava de ver-me,
Por isso despi-a mais uma vez.
A partir de agora ia usá-la,
E com orgulho, às avessas.

Ao olhar-me ao espelho só queria chorar.
A parte mais bela de mim, outrora limpa e pura,
Agora havia se tornado tal e qual como a que havia escondido.
Manchada, sem forma de retorno, não-lavável.

Já não tinha o que vestir e
Pela minha cabeça só passava a desistência.
Não queria ter que usar aquilo.
Por isso assim o fiz, desisti.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Desconexão

Eu tenho um sonho recorrente,
Todas as vezes que eu perco a minha voz
Engulo pequenas brilhantes luzes.

De trás para a frente no crepúsculo,
Esquecido na hora santa daqueles não cristãos,
Dava uma caminhada dada pelo tempo.

Eu tenho um sonho recorrente,
Todas as vezes que eu sinto uma rouquidão
Engulo feixes cálidos e brilhantes de luz.

As rugas das ruas tinham sido esticadas
E as luzes nunca acesas, apagadas.
Era só um sonho recorrente de um passeio.

Um inortodoxo cheiro a menta forte e árida
Pairava pelos teus lábios.
Era pagão, era bruxedo, era um embuste.

Acorda! Sai! Estás preso!
Foste apanhado no desabar de uma planície!
É só mais um sonho recorrente!