domingo, 1 de dezembro de 2013

Extemporâneo

Um cheiro primaveril
Pairava no ar
E o Inverno nem chegara ainda.

Para uns já era algo sazonal,
Só colhiam da árvore vital
Na altura em que
Todas as flores desabrochavam.

Era o fruto da época da Primavera,
Mas pelos meios mais inortodoxos
Desfrutei da surpresa da Natureza
No tempo em que nada havia de nascer.

O movimento retardado de crescimento
Proporcionou as melhores condições
Para um broto vir ao de cima (ou ao de baixo).

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Desencontrados

Já te foste embora. Não é algo novo, já está habituado a despedidas mas nunca consigo suportar a tua. É como uma faca, esventra-me. Não sabes nem consegues imaginar a falta que tu me fazes no dia-a-dia; pode ser meloso, ridículo e alvo de chacota, se assim o quiseres, mas eu nutro tanto mas tanto por ti. Podes sentir o mesmo mas não tanto quanto eu. É estúpido quantificar um sentimento, ou se sente ou não se sente, mas por ti sinto mais do que devia sentir, sinto para além do sentimento; é o que me fazes.
Não só despertas o melhor em mim como o pior; por ti talvez seria a pessoa mais egoísta no mundo, não pensaria duas vezes em salvar-te se perante mim fosse posta a difícil escolha de salvar mil ou a ti.
Já te foste embora e a nossa despedida não foi marcada, não foi vinculada na minha memória e por isso agradeço-te. Por não teres tornado a tua saída memorável agora quase sinto que ainda estás aqui; ainda consigo sentir o teu cheiro pairar no ar, esse teu doce aroma que relembra-me todos aqueles abraços de segundos que para mim eram a eternidade, não queria nunca mais sair dali, dos teus braços; lembro-me dos teus olhos como duas grandes avelãs e como cada vez que os nossos olhos se encontravam na fuga de não nos encontrar e era como se Deus finalmente desse a resposta ao propósito da vida, isto.
A melhor coisa que me aconteceu foste sempre tu e agora foste embora sem nem a única palavra que sempre te quis ouvir dizer ecoares; não é justo! Eu pensava que o dirias antes desta partida, eu sabia que iria acontecer mas não de um momento para o outro.
A minha imaginação não me chega, preciso de ti aqui, agora, como nunca antes estivestes, presente; o amor que sinto por ti apenas me deixa nesta ilusão da espera do teu retorno, porque é que te foste embora? Porque é que me deixaste? Tu sabias que eu precisava de ti e mesmo assim partiste... No final, se calhar, nunca quiseste mesmo saber de mim, se assim o fosse nunca o farias, nunca me deixarias como me prometeste.
Se te foste então não quero mais viver, não preciso, é tudo em vão; é ridículo estar aqui a tentar pensar em verbalizar o que me transcende. Isto nunca foi um adeus, foi sempre um até já, tu não me vais deixar. Eu não preciso mais de te implorar, agora corro atrás. Nós, isso é que não foi em vão e é por isso que vou à tua procura; vejo-te do outro lado. Espero que me recebas com carinho.

domingo, 20 de outubro de 2013

Passar a Ferro

Depois de tanto pensar
E matutar,
Descobri que vestia
A vida às avessas.

E quando me deu para vesti-la
Como deve de ser,
Descobri que o outro lado havia sido
Corrompido por manchas sem fim de sangue e suor.

Vi então o quão horrível essa era,
Só queria queimá-la de mim,
Exorcizá-la para um complexo paralelo.
Para um Universo o mais próximo de distante.

Não gostava de ver-me,
Por isso despi-a mais uma vez.
A partir de agora ia usá-la,
E com orgulho, às avessas.

Ao olhar-me ao espelho só queria chorar.
A parte mais bela de mim, outrora limpa e pura,
Agora havia se tornado tal e qual como a que havia escondido.
Manchada, sem forma de retorno, não-lavável.

Já não tinha o que vestir e
Pela minha cabeça só passava a desistência.
Não queria ter que usar aquilo.
Por isso assim o fiz, desisti.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Desconexão

Eu tenho um sonho recorrente,
Todas as vezes que eu perco a minha voz
Engulo pequenas brilhantes luzes.

De trás para a frente no crepúsculo,
Esquecido na hora santa daqueles não cristãos,
Dava uma caminhada dada pelo tempo.

Eu tenho um sonho recorrente,
Todas as vezes que eu sinto uma rouquidão
Engulo feixes cálidos e brilhantes de luz.

As rugas das ruas tinham sido esticadas
E as luzes nunca acesas, apagadas.
Era só um sonho recorrente de um passeio.

Um inortodoxo cheiro a menta forte e árida
Pairava pelos teus lábios.
Era pagão, era bruxedo, era um embuste.

Acorda! Sai! Estás preso!
Foste apanhado no desabar de uma planície!
É só mais um sonho recorrente!

domingo, 18 de agosto de 2013

Amanaemonesia

Era pálido e perdido o olhar...
Não tinha nele nem uma explicação
Do porquê havia ele escrutinado o luar,
Pensando neste como a divina perdição.

Era a mais serena convivência
Do esquecimento e do alívio
De tudo o que foi despedaçado.

Era sim a mudança para pior.
Era a resposta que tinha sido deixada em aberto,
Uma certeza não tinha sido dada sobre o que era o amor.
O amor que por ti não era sentido.

Era um ressentimento que não havia sido declarado,
E era também a morte
Da mais remota hipótese de um uno ser criado.

Era um alívio sentido.
Uma mágoa chorada, berrada.
Era mais um sentimento esquecido
Pela afronta do tempo e espaço.

Era assim o teu olhar, perdição,
Mais uma vez derrotar-me e de mim
Levar tudo abaixo do chão.

A Lua pelo menos desta vez sorriu de volta.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Matriz

Esquecido pelo esquecimento.
Reconfortado pelo desejo
Do mais tépido e caloroso desalento.
Algo turbulento e de uma alma caridosa só um beijo.

Era, sim, a sua origem, uma sombra apagada
Por luzes inebriantes e ofuscantes de um ser maior
Que ansiava uma maior tenebra de mim libertada.
Uma pequena caixa de Pandora. Era um favor.

De espírito de criança frágil e inocente, uma mera curiosidade.
Essa que libertaria uma das mais desconhecidas
Maldades, pela sociedade.
Amor, se apoderava daquelas pobres vidas.

Eram seres frágeis que viviam de paixões repentinas.
Eram seres estranhos que esqueciam a sua matriz.
De repente fechou, para a vida, as suas cortinas.
Aquela janela desapareceu e só lhe restava voltar à sua raiz.

Triste a convivência
Entre um estado de eterna pura dormência
E a mais sã consciência.

Era só mais um erro.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Casa

Estive à porta dela e receei tocar à campainha.
Ela podia abrir e eu podia entrar.
Seria tudo muito repentino e
Eu não saberia como reagir a este desenrolar.

Seria amor aquilo que me fizeram?
Pegarem em mim e puxarem-me para longe dela?
Será que foi o melhor? De mim apenas vieram
Mais chances e alternativas de lhe entrar casa a dentro...

E uma enorme vontade de dormir,
Dormir com ela e acordar num lugar branco.
Seria melhor. Seria a paz. Seria eufórico.
Acho que não poderia estar mais completo.

Mas agora estou preso na enorme rua,
À espera do clarão venha por si mesmo.
Porém a verdade nua e crua,
É que eu quero voltar o mais rápido possível e puder bater-lhe à porta.

Não quero ficar mais na rua, não quero
Que haja um lugar para mim e eu persista desabrigado
No meio de uma estrada na esperança de um carro passar
Quando posso sentir-me em casa no lar dela.

Canta-me uma canção.

sábado, 25 de maio de 2013

Titubear

Um fardo e um destino por alcançar,
Expectativas inatingíveis...
E eu num frémito de cambalear
Vejo de uma tão rasa queda, vertigens.

A vertiginosa ruína do castelo, outrora
Construído com alicerces de diamante,
Que dele restava o chão e dali só minha aurora
Relembrada como um eterno e nunca esquecido amante.

A altura que não havia problemas no núcleo do meu ser,
Pois a mais pura preocupação era a de ter preocupações...
Coisas que aprendi comigo mesmo... Já não preciso de pertencer
Visto que pertenço aonde não há onde pertença rejeições.

Evolui para um alguém mais puro, seguro até...
Porque, sim, titubeei para aqui chegar
Mas com a relutância de um magnate
Exasperado me morfear, em ti, Mãe, encontrei o meu lar.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Solidão

Cada dia que passa
Vejo o quão sozinho estou...

Vejo todos os adoravelmente enjoativos casais,
Que ecoam as palavras "Amo-te para sempre"
Como se fosse um simples e ignorante "Bom dia!";
Que fazem questão de dizer ao mundo que
São um do outro durante duas longas e duradouras semanas.

Vejo as pessoas desaparecerem...
Irem para um lugar "melhor", diziam...
Partirem pelo horizonte e
Serem vistas por mim apenas na minha memória,
Na memória partida do que já foram.

Vejo poderosas árvores serem derrubadas
Como a criança rasga a frágil folha de papel por divertimento.
Vejo mares de vida serem secos
E substituídos pelos brinquedos do Humano e,
Num lapso, deixados em ruína.

Vejo a antiga panóplia cromática no céu
E lamento por hoje ser só uma
Grande, opaca e maciça nuvem descendente cinzenta
Que não deixa a luz do maior astro os meus olhos atingir.
Vivemos numa escuridão inacabada.

E vejo a minha pessoa... Uma pessoa só.
Uma pessoa una consigo mesma que
Ao tentar familiarizar-se com o mundo
Foi refutada... Errou e falhou redondamente.
Simplesmente solitário no relógio do desalento da vida...

Sim, estou só, mas não porque quis,
Mas sim porque tive de aprender
A conviver com a solidão que me foi
Forçosamente imposta por tudo o que me rodeou
E por todos os que me amam...

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Transgressão

O meu ser transgride para uma concepção
Do que era perfeito ao teu olho subtil.
Ao teu olho subtilmente enganado pelas
Palavras de um outro que te dizia que te queria mais.

Pergunto-me eu, outra e outra vez,
A quem vais recorrer quando o pior acontecer?
Serei eu mais uma vez apenas um ponto de conforto?

Disseste que eu o mais importante, e,
No final, fui só uma marioneta submissa às tuas palavras
Tão encantadoras como a tua pele de cetim,
Como os teus dois belos olhos redondos de avelã.

E eu, tolo, por querer mais de ti, por
Querer que me desses algo mais que palavras que
A ti não te fazem qualquer sentido.

Mas lembra-te, cada palavra tua, cada murmúrio,
É como a mais simples faca que atravessa
As minhas vísceras. Mas será?
Será que queres mesmo saber?

Eu, tolo, quero poder é distanciar-me de ti
E cair no esquecimento da memória da tua existência,
Para quando o teu nome for uma outra vez dito
A tua pessoa seja recordada loucamente como uma paixão inalcançada,
Mas que sempre no meu coração permaneceu.

Odeio-me por não seres sequer
A razão do meu viver, mas,
Seres, já, toda a minha vida.

E esta mutação que ocorre em mim vai mudar tudo.
Vai corroer todas as poucas memórias que tivemos.
E eu, tolo, vou deixar. Deixar um pedaço de mim destruído.

E eu, tolo, já não vou querer saber.
A transgressão do meu ser está feita
E agora debaixo de estrelas de açúcar vou eu permanecer.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Coexistência

Sempre na contínua coexistência
Entre o génio que nunca fui
E o mais puro anonimato que sempre serei...

Uma força quase que desprezível
Perante umas e outras adversidades...
Sempre algo, nunca alguém.
Nunca relevante, apenas um adereço.

E mais uma vez uma vara
Facilmente quebrável pelos
Ventos da insegurança e ambição.
A ambição de ser algo mais que nada.

E mais uma vez mantenho
Os meus gritos e choros
No mais sereno silêncio possível.

E mais uma vez rasgado, corpo e alma,
Pelos meus próprios obstáculos.
E sempre soube... O meu silêncio sempre será
Mais ruídoso que as inevitáveis gargalhadas forçadas.

E mais uma vez decidi ser falso e hipócrita.
Infiel a mim mesmo e
Submeter-me à vida e às suas ruínas.

O irónico que tenho sempre uma solução
Para o problema deles, para o dos outros,
Mas para os meus sempre fui um zero.
E mais uma vez uma adição nula incessável.

A genialidade da ajuda que sempre tive em mim
E o estúpido coexistir do ignorante de não se saber ajudar.
O anónimo impávido que não tem fim.
E eu mais uma vez coexistente no não existir.

sábado, 6 de abril de 2013

Transição

A transição de um mau para um pior.
Engaiolado como um animal
Para que furor de mim não emane
E permaneça embebido no calento da minha mente psicótica.

Caos diziam eles que eu faria.
E caos fiz. Caos provoquei.
Esperando uma mínima resposta,
Uma preocupação. Uma espera em vão.

Falsos. Todos falsos e hipócritas.
Palavras, tão ocas como as suas cabeças,
Que prometiam segurança e conforto e 
Aí notei a transição do mau para um pior.

Diziam que na fé do acreditar, a ingénua confiança,
No que eles diziam, tudo o que eu
Ansiava, Desejava, Morria por, 
Iam ser uma meta alcançada.

Mentiras! Tudo mentiras atrás de mentiras!
Uma birra tosca a que chamaram de caos,
Quando na verdade, um pedido de ajuda,
Um socorro ecoado no mundo abafado por futilidades.

Libertei a raiva, a ira, a fúria,
Deixei um "eu" que já não era eu
Tomar conta de mim e fazer o que sempre quis.
O que sempre quis mas nunca quisera.

O psicotismo de uma mente jovem que,
Sem saber, matou os próximos com simples termos,
Simples locuções que, esses sim, o dito "Caos" causaram...
E em pensar em tudo o que senti, apenas indiferença lembrei.

Um desejo de sentir-me preocupado invade-me,
Um arrependimento, mas nada lamento.
E assim o epílogo da vitória conquistada
Com desejo da arrependida falha fracassada.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Crepitar

Um fado de anjo,
Um destino incompreendido
Com um final de demónio,
A assunção do não divino.

O ser, crepita, guincha,
Berra da dor que sente,
A dor que sente por dor não ter, e esta,
A dor primórdia de todas as dores que nunca sentiu.

E este sujeito que sujeitou-se,
Submeteu-se, à atrocidade
A que chamavam de Amor.

Um caminho divino por percorrer,
Mas com um desenrolar sempre de tenebra,
O Amor e o seu efeito.

terça-feira, 26 de março de 2013

Madeira

Um pedaço de cipreste selvagem
Cai, ao som apaziguador da chuva.
Um grupo majestoso de cervos corre e foge
E avisam todos de calada do desastre eminente.

Um som ensurdecedor de pássaros e toupeiras
Que gritavam pela perda de um ramo,
Enquanto os cervos alimentavam-se
Do que restava daquela nobre ex-vida.

Uns lamentavam, outros gozavam.
Eu quieto vendo-me putrificar.
Uma morte verde.
E foi aí que surgiste.

A chuva caía e foi aí que te encontrei...
Um fungo que putrificou quem eu era antes.
Eu era um pedaço de madeira vivaz e tu,
Tornaste-me em não algo morto, mas em vida.

Tu tornaste possível que crescêssemos juntos,
Síncronos, em sintonia.
Desfiz-me por ti
E voltamos a fazer-nos por nós.

Um pedaço de cipreste selvagem
Que outrora caíra na calada da chuva,
Hoje tornara-se um cipreste bravo
Que durou e durou.

sábado, 23 de março de 2013

Paruitatem

Recordações incineradas.
Memórias desfeitas e pulverizadas.
Lembranças do que não era meu,
Mas sempre desejei que fossem parte de mim.
Nem isso o eram.

Eu sempre fui isso.
Eu sempre fui nada mais que pó.
Sempre algo abaixo de...
Sempre algo que tinha que ser submetido.

E é isso que sou para ti não é?
Insignificante mais uma vez...
Outra vez abaixo de pó,
Outra vez um ser que não é,
Outra vez um prólogo sem sentido.

Eu tive tempo para ser mais,
Para ser alguém.
Para ser teu.
Mas esse tempo, queimei-o.

Erodi o tempo com a amargura que sentia.
Queimei a minha existência com a chama
Do amor que sentia por ti.
E nem olhei para trás.
Eu matei-me.

Fui deixado corroído por mim
Mas na verdade, a culpa foi só tua.
Porém por ti o fiz,
Por ti me perdi.

Eu o errado por pensar que
Deitar as culpas em ti o certo.
Eu apaguei o nosso preâmbulo
Com um grito condensado em mil.
Um frémito de destruição.

E no final peguei no nosso livro,
Que nunca existiu,
E afoguei-o.
Afoguei-o em ácidos reconfortantes.

A dor de não te sentir
Era melhor do que a dor
Que sentia por ti.
Por isso eliminei-te,
E tornei-te insignificante também.

Recordações incineradas.
Memórias desfeitas e pulverizadas.
Lembranças do que não era meu,
Mas afinal era tudo meu, eu é que não o quis.

sexta-feira, 22 de março de 2013

Transparência

Eu agora apagado.
Eu agora sem existência na tua vida,
E se ainda existo,
Sou muito pouco.

Lembro-me da altura em que
Éramos realmente felizes.
Verdadeiramente, desfrutávamos
A companhia, um do outro.
Os nossos lábios eram virgens
A cada beijo,
Porque a cada beijo que dávamos
Era como se fosse o nosso primeiro.
Cada vez que agarravas a minha mão,
Era um mundo inteiro qu'eu agarrava,
Porque foi isso o que sempre me foste;
O mundo e o para além de.

Eu, parvo, fui perdendo o encanto
Do que é estar a dois...
Cada vez que estávamos juntos,
Já não era a mesma coisa,
Porque era quase que,
Com uma obrigação para mim...
Porque eras a minha pessoa e eu a tua,
Não te podia perder,
Mas por actos egoístas e egocêntricos
Isso acabou por acontecer...
Não foi?

Comecei a perder-te porque
Eu negligenciei o teu amor,
Negligenciei a tua presença,
Negligenciei o "nós".

Maldito eu, que fui eu fazer?

Agora choro eu pelos cantos,
Quando na altura que tu choraste
Eu não quis saber...
Irónico.
Agora quero voltar para ti e não posso...

Agora queres tu ser feliz,
E comigo já não o és...
Vi-te no outro dia, com um outro,
Um outro que fazia-te sorrir,
Fazia-te sentir como, nunca alguma vez,
Eu tinha te feito sentir.
Isso despedaçou-me,
Mas tenho que continuar.
Apesar de tudo,
Apesar de te ter feito sofrer,
E tu a mim, só te quero fazer
Sorrir.


Eu agora apagado.
Eu agora sem existência na tua vida,
E se ainda existo,
Sou muito pouco.
No final eu fui o mal da fita...

sexta-feira, 8 de março de 2013

Sacrifício (Se eu fosse...)

Se eu fosse apaixonado seria diferente.
Apaixonado pela vida,
Apaixonado pela cor,
Apaixonado por cada momento vivenciado...

Em vez disso vivo no meu pequeno mundo,
Um mundo a preto e branco...
Um mundo só meu onde não preciso
De me preocupar com os olhares
E com os segredares que fazem
Cada vez que a minha sombra é avistada...
Um mundo onde eu sou eu
E tu não és nada por não existes,
A dor que me causas não existe.

Mas então se tu não existes...
Porque dor ainda sinto?
A dor de me sentir vazio? Oco como um tronco?
Sim, esta sim, tortura-me.

Se eu fosse apaixonado talvez fosse normal,
Porque assim sabia que me querias
E que eu era merecedor de ti,
Mas fechado no meu casulo
De solidão cinzenta não é a porta...
Eu preciso amar-te cara a cara e
Gostava de ser apaixonado porque
Seríamos um do outro,
Incondicionalmente...

Mas porque não entras tu no meu mundo?
Porque não largas os que te deixam magoado
E não te juntas a mim? Podíamos viver em harmonia síncrona,
Mas porquê, de alguma forma, te afasto eu?

Troco passos com a solidão quando,
Podia trocá-los contigo...
Triste vida a minha...
Mas se estar contigo significa que
Tu sejas odiado pelos que te querem bem,
Então prefiro estar sozinho.
Não vou abrir mão da minha solidão
Para que depois sejas tu o ser torturado.
Não o permitirei!

Serei idiota e egoísta,
Fechado a sete chaves incineradas
Para que não caias na tentação
De me vir procurar...

Mas não é isso o que é ser apaixonado?
Sacrificar?

domingo, 3 de março de 2013

Frio

És frio.
O teu coração gélido
E enevoado.
Escondes o que sentes entre dentes,
Com medo que, por alguma razão,
Eu venha a implodir.

As tuas palavras não dizem nada;
Já foram gastas e erodidas pelo
Tempo em que investi em ti,
E esse tempo que podia ter sido
Utilizado para o "nós"...

Tu com medo de me atingir,
Com medo de me partir,
Tratando-me como porcelana,
Fizeste-o.
Deixaste-me cair.

O parvo é que eu gostei,
E o melhor disto tudo,
O melhor da minha vida,
Foi isto.
O teu desprezo contínuo.

sexta-feira, 1 de março de 2013

Sentidos

O significado que não significa nada.
A tua significância é insignificante,
E tudo o que antes era significativo,
Tudo que dantes era puro,
Agora tornou-se inexistivo.
Palavra rasgadas ecoavam,
Torturavam, vilipendiavam,
No meu ser.

O sentido que deixou de fazer
Porque tu deixaste, tu permitiste.
Tu permitiste esta subducção,
Onde eu metia tudo o que significava "tu"
Por cima de tudo que significava "eu".

A ignorância em que tu me tornaste,
Num ser vil.
Num ser sem sentido.
Num ser sem saber o que ser.

Porque o sentido perdeu-se
Para um mero caso com outros,
Por um mero caso com cravos.

E eu que dantes passeava nas urzes,
Senti necessidade de correr em campos de urtigas.
Senti necessidade de pegar em espinhos de rosas
E espalhá-los num caminho para que eu o percorresse;
Sentir a dor nas minhas plantas.
Sentir o ardor e sentir o sangue desaparecer.

Uma existência maltratada e
Um arcanjo que atirava flechas.
Uma existência como um São Sebastião,
Que ao defender no que acreditava,
Mil flechas ao seu corpo foram atiradas.
Um arcanjo como um São Miguel,
Lutou contra demónios e cristãos
Montado no seu dragão.
Não é o "eu" o dragão?

Sentidos ocos,
Sentidos vazios,
Sentidos que já não existem,
Sentidos que nunca deviam ter existido.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Complexo

A vida é um complexo.
Dilemas estranhos que crepitam no nosso ser.
E quando não o são,
Não valem a pena lutar.

No final é tudo uma mistela sem nexo.
No final só fica o que é duro,
E na vida nenhum de nós é duro.
Todos seres reles e putrefatos.
Impuros e desmerecedores.

E o irónico? O irónico é que,
No final, atingimos o auge da putridão ao olho nu,
Mas mesmo assim,
Conseguimos ser mais limpos
Do que na plena vida.

Qual é o propósito da vida
Sem haver sucesso?
Sem haver concretização do eu?
Sem haver nem um frémito de alegria?
Não tem, não existe.
Estes dilemas não resultam de nada.
Ou és tudo ou és nulo.
Largar ou perder.
Não existes, não marcas.

Ai Vida, deixa-me aqui
No meu solilóquio celestial, deixa-me aqui
A apreciar a Clemência e a Divindade que em tempos foras,
Abismando-me com o que és agora,
Desejando a morte aos do Além,
Que, outrora, foram os de Outrem.

Este ciclo incessável de ruídos
Causados por ti.
Causados pela tua ausência.
Fazendo-me tu falta, Vida.
Agora sentindo-me no estado eterno de dormência,
Relembrando que,
Queimado pelas chamas nunca deveria reignir.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Amor Fingido

É o teu amor fingido?
Ilusão minha das tuas ações...
Se o teu amor é fingido
O espelho da tua alma
Já não é o que era.
As palavras sentidas, sem sentido,
Já não são o que eram.

E eu farto desta espera
Por um tu que (provavelmente) nunca existiu...
Eu aqui, sozinho, à procura
De um tu que estivesse disposto
A dar-me a tua forma mais pura...

Mas lembro...
Lembro daqueles teus dizeres.
Dizeres, que para mim, sempre serão
Facas bifurcadas.
Lâminas que traziam ao de cima as minhas vísceras e
Conseguiam fazer brotar de mim
O meu mais genuíno prazer.

Mas se esse teus dizeres, esse teu amor,
Essa tua poesia,
Era tudo uma farsa,
Era tudo fingido,
Então acho que por agora e em diante
O meu ser será foragido.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Existência

Sou um disco de vinil velho,
Que mais ninguém quer ouvir...
Tenho, subtilmente, perguntado a mim,
É por ti que quero partir?
Partir para longe,
Contigo escapar pelo horizonte, e,
Assim poder cairmos um pelo outro,
Sentir a frescura do vento
Passar pela face de queda;
Partir como uma jarra chinesa,
Deixando que me largues
E me deixes quebrar,
Deixando pegares no meu coração
E o estilhaces, o esmagues,
Mas só para depois
Seres tu a consertá-lo.

Sou aquele disco de vinil
Que tu olhaste, compraste,
E ouviste vezes e vezes sem conta,
Sem nunca te cansar.
Aquele em que tu pensaste
Se não seria aquele o disco da tua vida,
A música da vida, música feita para dois.

Mas isso é o meu existir,
Servir-te incondicionalmente
Sem pensar duas vezes,
Sem racionalizar,
Sem pensar "consequências",
Sem pensar nos que magoarei,
Sem pensar em mim...
Mas não é essa a minha existência?
Ser teu?
Amar-te de uma forma perdida e inconsciente?
E se não for? Qual é?